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Quando foi que normalizamos estar constantemente cansadas?

  • giovannadelcarlo
  • 13 de mar. de 2024
  • 2 min de leitura

Esses dias vi uma amiga da época do ensino médio que coincidentemente também é minha dentista.


Conversa vai, conversa vem, amenidades para cá, amenidades para lá, perguntei como estava o pequeno, a vida, a rotina... E ela de pronto me respondeu: "Amiga, estava falando mais cedo com a minha mãe: parece que estou fazendo tudo meia boca, sabe? Pela metade!"


Pela primeira vez na vida, agradeci por estar naquele momento constrangedor que tentamos conversar com a dentista mesmo estando com a boca aberta. Fui salva pelo gongo. Eu não tinha resposta a dar a ela.


Afinal, curiosamente, estou há alguns dias me perguntando por que o tanto que fazemos, no final sempre acaba parecendo o famoso "enxugar gelo". Num looping onde a única coisa que se multiplica é o cansaço.


Aqui em casa, tem uma pilha de roupas de desapego parada há um ano esperando eu cadastrar as peças numa plataforma de vendas online. E todo final de semana o ritual se repete: olho para ela e preciso ignorá-la, pois ou ainda há pendências da semana para lidar, ou só me faltam forças para começar.


"Dê um tempo para seu corpo!" "Remaneje tarefas para o próximo dia!" "Faça na próxima semana!" "Priorize você!" - eles dizem. Mas amanhã eu estarei cansada novamente. Semana que vem? Também. E na próxima? Idem. Já virou um evento na agenda.


E por mais que aqueles tão sonhados diazinhos de descanso cheguem, caímos na mesma angústia da minha dentista. Eles parecerem sempre insuficientes. A sensação é que a gente nunca está inteira, sabe? Seja para passar o dia com os amigos, reunir a família ou ter um momento especial com quem a gente ama.


Vivemos uma correria brutal e exaustiva para mostrar nosso potencial com a palavrinha do momento: produtividade. A ironia é que mesmo nos momentos mais prazerosos de ócio ainda sentimos falta dela.


Acordamos cedo, dormimos tarde. Pulamos a atividade física, o café, ou a yoga. Respondemos mensagens no almoço, deixamos o lanche da tarde de lado. Corremos uma maratona contra o relógio para acompanhar a velocidade das tecnologias. E à noite, só temos forças para nos render aos quilômetros de tela para rolar que elas mesmas nos proporcionam.


Saudades da época que minha única preocupação era saber quando eu ia precisava lavar o cabelo: na noite daquele dia ou na manhã seguinte?


Semana retrasada, foi o Dia da Mulher, e meu feed do insta parecia uma enxurrada de mensagens empáticas, de sororidade, sobre como a sociedade exige de nós e blá blá... mas, sabe... Tenho a sensação de que as mulheres que tanto esbravejam sobre liberdade são as mesmas que nos aprisionam nela.


É a cliente que SEMPRE reclama de algo e nada tá bom, é a chefe ou a mãe que quer mais e mais mesmo você entregando seu máximo, é a colega de trabalho que disfarçadamente joga o trabalho dela no seu colo e por aí vai.


Parece que estamos numa competição, mas eu confesso que ainda desconheço os outros competidores. E estou cansada demais para descobri-los.



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